quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

ENTRE O SOALHO E A AREIA

Com tantos recintos e competições de indoor de voleibol de praia já me custa falar do voleibol como sendo o voleibol indoor. De facto, voleibol e voleibol de praia são, cada vez mais, duas modalidades distintas e o voleibol de praia, durante o inverno, é cada vez mais indoor.
Independentemente da formação do jogador ser no voleibol (mais frequente) e de alguns atletas de voleibol de praia jogarem também voleibol (cada vez mais raro), há cada vez mais atletas federados/amadores a jogar apenas voleibol de praia o ano todo. Chegam-me, constantemente, convites para participar em torneios de voleibol de praia (indoor e outdoor) nos vários cantos do mundo (Ásia, Oceania, Europa, América e até mesmo África). Enquanto a época (provas da FIVB) não começa, são vários os países a investir, cada vez mais, na organização de competições que divulgam a modalidade, atraiem mais atletas e mantêm outros na sua actividade profissional.
Há aqueles que têm mais apoios e podem fazer a sua preparação de um modo extremamente profissional, limando (quase) todas as variáveis implícitas no rendimento, procurando especialistas nas diferentes áreas, realizando estágios em distintos locais (exemplo: as alemãs, número 4 do mundo, que estiveram até Dezembro na Alemanha a jogar voleibol numa equipa e a fazerem o trabalho de pré-época com um grupo de preparadores físicos; em Janeiro rumaram à América do Norte e depois à Nova Zelândia para jogar torneios e agora estão na Austrália para uma preparação mais cuidada do domínio psicológico).
Outras duplas (primeiras do ranking mundial), com um campeonato forte no seu país, por lá se mantêm a treinar e a competir.
Uma outra parte (duplas do meio/fundo da tabela, quase todas da Europa) está ainda a competir em várias equipas, mas têm já orçamento para cumprirem o plano de competições no voleibol de praia (exemplo: espanholas, finlandesas, dinamarquesas e eslovenas). Nesta parte incluímos ainda muitas outras duplas europeias (exemplo: russas, letãs, checas, suiças, austríacas, inglesas, holandesas e italianas) que estão apenas concentradas na sua preparação para o voleibol de praia, alternando com estágios em recintos indoor em vários pontos da europa e estágios na América do Norte/Sul, Austrália e Nova Zelândia.
Por cá, as nossas duplas jogam voleibol. Alguns têm já uma grande parte dos apoios assegurada, o que lhes dá alguma tranquilidade e eleva a motivação para terminarem a época de voleibol em grande, bem como para iniciar a de voleibol de praia. Outros, quando têm tempo, procuram um ou outro patrocínio na tentativa de concretizar um sonho que perseguem há tantos anos. Encontram grandes obstáculos e vêem-se obrigados a ser verdadeiros aventureiros num deserto de várias areias. Sem querer, estão já a usufruir de uma excelente preparação: física, táctica e mental. É preciso coragem para lá entrar e perícia para lá andar!
Este ano não tive o privilégio de treinar/competir na areia o ano todo. Aproveitei para estudar mais alguns aspectos do voleibol de praia e ver alguns jogos da nossa divisão A1 (masculino e feminino). Quem lá joga mantém o brilho do soalho, mas eu continuo a preferir as marcas da areia. Sinto-as, cada vez mais, como sendo as mais profundas e delicadas.
Gosto de as sentir na areia fofa onde se joga com “nervo” e com a sabedoria de enfrentar os baixos. Gosto de as sentir na areia dura onde se joga com leveza e com a transparência de uma criatividade única.
Há muito poucos que se atrevem a ultrapassar a linha que separa o soalho da areia. Eu continuo a preferir avançar!

Não é grande estar aqui. Dias rasos / e noites submersas, tudo muito fracturado./ Mas uma esperança faz-me extenso / acreditar torna-me intenso // - e é impressionante respirar. - Poema de Carlos Poças Falcão.















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