Recordo e partilho as palavras que me chegaram como ondas suaves à areia timorense e que tão bem se encaixaram no mar que trago dentro de mim:
“O mar é qualquer coisa de extraordinário em nós, qualquer coisa que levamos dentro de nós, qualquer coisa que nos mexe e nos toca fundo, no ser que nós somos e no sonho do ser que gostaríamos de ser verdadeiramente ou pelo menos em sonho.
O mar é a nossa maior fonte de metáforas e é seguramente a presença mais forte da nossa poesia.
Mergulhar em mares distantes é uma forma de o fazermos um bocadinho nosso, de nos fundirmos com a imensidão, de marcarmos presença na lonjura e dizer sou um bocadinho deste sítio.
Tasi feto, regaço doce maternal, mar calmo de embalar, de paz com o mundo, de segurança, de familiaridade, de concórdia, de navegação sem problemas.
Tasi mane revoltoso, perigoso, intranquilo, traiçoeiro, mar de lágrimas, de medo e de coragem, de raiva e de impotência, de risco e de aventura.
A nossa vida é feita de tasi feto e tasi mane. Tasi feto a mais aborrece os espíritos insatisfeitos, as almas criativas, os corações apaixonados que precisam de se sentir vivos, de agitação, de vento, de ondas, de mudança, de adrenalina, de novidade, de transcendência. Tasi mane, mar de aventura, mar de respeito, mar de cuidados, mar de aflições. Não chega apenas a coragem para navegar neste mar, é preciso perícia, é preciso saber ouvir o mar, ver o mar, ir com ele e escapar-lhe, abrigar-se. Alturas há em que o fundamental é boiar, não nos afundarmos, sermos rolha, cortiça. Mas se formos só isso, se não tivermos vontade para além disso, então mais valeria estar em terra, ou não sair das aguas mansas do tasi feto.
Timor é tasi feto, é tasi mane. Cuide da sua embarcação, nas águas do Tasi Mane, navegue com "nervo", com energia, mas com sabedoria, não se esqueça nunca da força do mar e dos perigos que ele encerra, procure os portos de abrigo, os faróis, evite os baixos, as correntes perigosas, ouça a voz da gente que sabe ler os meteoros, que antecipa as tempestades e que conhece as manhas do mar. Saboreie a tranquilidade do tasi feto, dê valor às coisas que correm devagar, ao descanso.
Daqui lhe mando um abraço solidário que gostaria muito que pudesse chegar aí aos confins do mundo com a força de fazer afugentar bichos repelentes,amaciar a saudade do conforto dos amigos e dar alento nas horas mais duras. Gostaria que este abraço pudesse ser cúmplice dos olhos felizes das crianças timorenses que tiverem a sorte de jogar, de cantar, de aprender duas coisas em português consigo, com a sua energia solar, com a sua capacidade imensa de inventar possibilidades onde os outros não vêem senão obstáculos intransponíveis."
Brasil - Rio Grande do Norte - Genipabú
Há 4 anos