quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MAR TIMORENSE

Recordo e partilho as palavras que me chegaram como ondas suaves à areia timorense e que tão bem se encaixaram no mar que trago dentro de mim:

“O mar é qualquer coisa de extraordinário em nós, qualquer coisa que levamos dentro de nós, qualquer coisa que nos mexe e nos toca fundo, no ser que nós somos e no sonho do ser que gostaríamos de ser verdadeiramente ou pelo menos em sonho.
O mar é a nossa maior fonte de metáforas e é seguramente a presença mais forte da nossa poesia.
Mergulhar em mares distantes é uma forma de o fazermos um bocadinho nosso, de nos fundirmos com a imensidão, de marcarmos presença na lonjura e dizer sou um bocadinho deste sítio.
Tasi feto, regaço doce maternal, mar calmo de embalar, de paz com o mundo, de segurança, de familiaridade, de concórdia, de navegação sem problemas.
Tasi mane revoltoso, perigoso, intranquilo, traiçoeiro, mar de lágrimas, de medo e de coragem, de raiva e de impotência, de risco e de aventura.
A nossa vida é feita de tasi feto e tasi mane. Tasi feto a mais aborrece os espíritos insatisfeitos, as almas criativas, os corações apaixonados que precisam de se sentir vivos, de agitação, de vento, de ondas, de mudança, de adrenalina, de novidade, de transcendência. Tasi mane, mar de aventura, mar de respeito, mar de cuidados, mar de aflições. Não chega apenas a coragem para navegar neste mar, é preciso perícia, é preciso saber ouvir o mar, ver o mar, ir com ele e escapar-lhe, abrigar-se. Alturas há em que o fundamental é boiar, não nos afundarmos, sermos rolha, cortiça. Mas se formos só isso, se não tivermos vontade para além disso, então mais valeria estar em terra, ou não sair das aguas mansas do tasi feto.
Timor é tasi feto, é tasi mane. Cuide da sua embarcação, nas águas do Tasi Mane, navegue com "nervo", com energia, mas com sabedoria, não se esqueça nunca da força do mar e dos perigos que ele encerra, procure os portos de abrigo, os faróis, evite os baixos, as correntes perigosas, ouça a voz da gente que sabe ler os meteoros, que antecipa as tempestades e que conhece as manhas do mar. Saboreie a tranquilidade do tasi feto, dê valor às coisas que correm devagar, ao descanso.
Daqui lhe mando um abraço solidário que gostaria muito que pudesse chegar aí aos confins do mundo com a força de fazer afugentar bichos repelentes,amaciar a saudade do conforto dos amigos e dar alento nas horas mais duras. Gostaria que este abraço pudesse ser cúmplice dos olhos felizes das crianças timorenses que tiverem a sorte de jogar, de cantar, de aprender duas coisas em português consigo, com a sua energia solar, com a sua capacidade imensa de inventar possibilidades onde os outros não vêem senão obstáculos intransponíveis."













domingo, 10 de janeiro de 2010

PROFISSIONALISMO (POR LEONARDO LOURENÇO)

(Leonardo Lourenço – treinador da dupla austríaca Sara Montagnolli/Barbara Hansel – 13º mundial e 8º europeu)

O Vôlei de Praia tem demonstrado uma grande evolução nos últimos anos, principalmente após sua inclusão nos jogos olímpicos a partir de 1996, em Atlanta. A maioria dos times hoje em dia, ou pelo menos os principais times do mundo, contam com uma comissão técnica, capaz de guiar e planejar os passos a serem dados objetivando o sucesso, seja ele em um jogo, um torneio, uma temporada ou um ciclo olímpico.
Infelizmente, na grande maioria dos casos, ou pelo menos em países que seriam as principais potências do esporte (Brasil e Estados Unidos) o vôlei de praia tem acompanhado uma evolução de forma piramidal inversa.
Quando se é um leigo e se pensa em voleibol de praia, automaticamente inclui-se o voleibol indoor. Comparemos então a evolução dos dois esportes: Enquanto no voleibol indoor geralmente tem como respaldo um clube, uma federação e patrocinadores de peso que arcam com as despesas e contratam a comissão técnica, no voleibol de praia geralmente vemos os atletas contratando seus treinadores, buscando patrocínios...Isso tudo além do trabalho pesado do dia a dia, os treinos físicos, técnicos.
É uma situação que se torna desgastante para o atleta, para a comissão técnica, enfim, para todos que estão trabalhando naquele time. Óbvio que isso também passa pela personalidade de cada um dos envolvidos. Não é fácil para um treinador que tem como seu chefe um atleta desinteressado ou até com desvios de personalidade, do qual ele tem que cobrar o máximo diariamente. Em algum momento pode haver confusão sobre em que momento se é atleta e em que momento se é o chefe.
Em contrapartida, no voleibol indoor o atleta tem apenas a obrigação de dar o seu máximo dentro de quadra, não se preocupando com assuntos extra quadra, a não ser que exista algum atraso de pagamentos ou qualquer coisa que vá afetar seu próprio desempenho. E a recíproca é verdadeira quando falamos das comissões técnicas do voleibol indoor.
Ainda assim, algumas federações têm o que chamamos de “National Team”, onde elas próprias escolhem um treinador (geralmente com ajuda dos atletas) que da mesma forma do voleibol indoor, só se preocupam ambos, treinadores e jogadores, com o treinamento árduo. Entretanto, isso só é possível em federações onde não existem muitos times de bom nível, visto que não seria viável a uma federação custear várias comissões técnicas, já que os times de um mesmo país acabam sendo adversários quando estão no circuito mundial. Ou até mesmo uma comissão técnica para vários times ao mesmo tempo se tornaria inviável, já que isto caracterizaria trabalho em excesso para apenas uma comissão técnica.
Desta forma, o vôlei de praia vem se assemelhando mais ao tênis, esporte tradicional e secular, que movimenta milhões em dinheiro por ano, no qual seguramente é mais fácil de se arcar com uma comissão técnica, devido também ao maior investimento de patrocinadores. Mas como ou por quanto tempo os atletas do vôlei de praia irão arcar com essas despesas, sendo que o retorno deles é infinitamente inferior?