sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PROFISSIONALISMO

“As únicas pessoas felizes que conheço são aquelas que fazem um bom trabalho por uma causa que acham importante.” Abraham Maslow
A definição de profissionalismo (“complexa variedade a que um profissional se deve submeter para desempenhar o trabalho com dignidade, justiça e responsabilidade”) sugere, por um lado, a capacidade de desenvolver, interrelacionar e gerir os inúmeros domínios intervenientes no processo em que o profissional está envolvido. Por outro lado, realça valores como a dignidade, justiça e responsabilidade. Estes poderiam estar já perfeitamente enquadrados num dos tais domínios intervenientes, mas surgem destacados pela importância ou peso atribuído no resultado final do profissionalismo.
Tendo como pano de fundo o sucesso de algumas equipas de voleibol de praia, sucesso esse que pressupõe que o mundo não é o que existe, mas é o que acontece, seria importante compreender o percurso da sua actividade enquanto profissionais e a sua transformação pessoal, profissional e social. De facto, o acontece pressupõe dinamismo – não existe, acontece – e significação – não é aquilo que existe, mas aquilo que, com a atribuição de significado, acontece. Ou seja, a experiência está intimamente associada ao conhecimento, por isso é de capital importância a construção linguística da experiência.
Como o profissionalismo no voleibol de praia em Portugal não existe nem acontece, tenho muita dificuldade em escrever sobre algo que desconheço. No entanto, escrevo sobre o que sinto ser (porque ainda conheço muito pouco) o profissionalismo no voleibol de praia mundial pela pequena partilha com equipas profissionais, por tudo o que me é transmitido antes, durante e após algumas das competições do circuito mundial (nas quais consegui estar presente) e, fundamentalmente, pelo enorme desejo de ser profissional (treinadora) no voleibol de praia.
Tento, assim, modelar a dinâmica da experiência e da significação dada à experiência de muitos(as) profissionais de voleibol de praia, evocando os traços mais estáveis como sendo coordenadas polares para uma acção e construção de um conhecimento mais profundo da realidade mundial do voleibol de praia.
Este parece-me ser um instrumento fulcral para quem deseja manter o máximo da genuinidade daquela que é uma experiência de vida, para a vida.
Outro tipo de material que temos para analisar esse dinamismo são as declarações de treinadores(as) e atletas, profissionais do voleibol de praia, (respostas a entrevistas descontextualizadas e nem sempre reflectem aquilo que o(a) atleta e/ou treinador(a) estão verdadeiramente a sentir). Esses dados não serão, pois, os ideais para uma análise cuidada, mas é interessante verificar a que é recorrente evocarem sempre os valores (dignidade, justiça e responsabilidade) tidos como essenciais para o profissionalismo. Além disso, é possível detectar uma grande dose de investimento afectivo no trabalho (voleibol de praia).
Por aquilo que nos é dado a ler (imprensa) e a sentir (contacto directo com a realidade), verificamos que na nossa sociedade esse investimento afectivo está (quase sempre) todo canalizado para outros sectores da vida. Na maioria das vezes, a profissão serve apenas o propósito de obter um rendimento essencial para uma vida privada. Nem sempre há gosto, virtude ou excelência no desempenho da profissão. Sendo assim, muito raramente se entra a fundo na profissão. Não há lugar nem tempo para o conhecimento profundo dos meandros da profissão, nunca se chega a ganhar a experiência necessária para se ser bom profissional porque há contínuas desistências ou então uma permanência inerte.
Se a profissão não servir nem sequer o propósito de obter um rendimento essencial para a vida privada, simplesmente não existe! Provavelmente é por isso que não há profissionais de voleibol de praia em Portugal.
Há que acreditar, há que lutar e há que ter a coragem para abraçar e construir projectos com alicerces sólidos. Há que investir numa permanência nos meandros do voleibol de praia para melhor saber cuidá-lo.

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