Escrever aqui e agora acerca da importância do desporto na minha vida é olhar simultaneamente para a imensidão e para a simplicidade do mar... é procurar descrever a diversidade da sua fauna e da sua flora, sem nele estarmos mergulhados... é falar de sentimentos que surgem soltos e dispersos e que exigem ser encadeados e narrados. Uma construção difícil, com certeza... tal como é a do Homem. Mas que se torna inevitável fazer erguer, nomeadamente, no e pelo desporto! Na falta de um mar, pelo menos que este aquário de duas páginas nos incentive a pensar e a sentir o desporto com a grandeza que o mar exibe.
Peço então emprestados, para começar, a aldeia de Freud onde todos parecem contribuir para a construção de uma identidade, o mar de Sophia de Mello Breyner, associado ao dia claro e limpo, à plenitude, às origens, à harmonia e, sobretudo à inteireza. Oriento-me pelo roteiro das minhas vivências no desporto, correndo sempre, apesar de tudo, o risco de me perder.
Enquanto criança, o desporto entrou de uma forma espontânea na minha vida, como entra em qualquer criança. Tive a vantagem de ter uma rua e um mato disponíveis para explorar com os meus amigos, estimulando todas as minhas potencialidades enquanto pessoa e atleta. Foi uma escola paralela à família e à escola onde resolvi conflitos, lutei pelos meus anseios, senti a tristeza e vivi com a alegria. Foi sobretudo aquilo que sentia nos jogos de rua, no recreio, na bancada, de bicicleta ou a correr, a arbitrar ou a jogar - de um modo mais ou menos formal - que me foi educando para uma vida no e pelo desporto. Tinha, então, independentemente dos rumos que tomasse, a minha bússola orientada para aquele que me pareceu ser sempre o melhor destino para quem pretendia viver no e pelo desporto... Destino esse que senti como uma brisa firma que me puxou, que invadiu o meu pensamento, de uma forma quase tão espontânea como a de uma criança a brincar e que foi a grande responsável pelas minhas tomadas de decisão ao longo da vida.
Em adolescente continuou a decisão por uma vida dedicada em pleno ao desporto. A opção pelo desporto numa vida académica reforçou todos os laços que me prendiam a este mundo de intensas interrelações pessoais, emoções extremas e exigências peculiares. Tive a sorte de ter professores e colegas que reflectiam aquelas que foram as minhas expectativas iniciais relativamente a uma vida profissional dedicada à transmissão dos princípios, valores e poderes do desporto. Fui seguindo este percurso, como se de um planeamento desportivo a longo prazo se tratasse. Os conflitos que tive que resolver e os obstáculos a ultrapassar apareciam como se de uma nova carga de treino se tratasse. Gerava um momento de desconforto, mas logo surgia um nível de compensão acima da forma anterior. Respeitei os períodos de recuperação, aproveitando para consolidar os afectos deste palco de emoções. Cresci.
Foi sobretudo no palco do voleibol que vivi e senti as mais fortes emoções. Foi também nele que tomei as decisões mais difíceis e, por isso, continua a ser o palco da minha vida.
Desde o voleibol do desporto escolar ao do clube - 2ª à 1ª divisão -, passando e permanecendo no voleibol de praia - nacional e internacional - fui aprofundando o poder do vasto mundo de emoções, de cultura e de saberes que integram este micro-sistema. Não há nada mais próximo da vida do que as emoções que nos fazem vibrar, bem como a escuta respeitosa das emoções dos outros, para criar sentido e dar a cada um a sensação de ter um lugar satisfatório na vida. Acredito que o capital relacional de toda a pessoa é o seu potencial de felicidade e o desporto é o meio, por excelência, para o conseguir.
Enquanto formadora (professora de educação física e treinadora de jovens), procuro que os alunos aprendam a aprender a lidar consigo mesmo, nomeadamente no e pelo desporto. É uma aprendizagem recíproca com outros que salientam incessantemente o poder do desporto.
Foi também o voleibol e o prazer de ensinar no e pelo desporto que me fez embarcar, rumo à Ilha do Avô Crocodilo, terra do sol nascente, Timor Lorosa’e. Assim, é-me imensamente grato afirmar que a vivência desta etapa da minha vida, também é fruto da partilha de ideias e debates fecundos sobre aspectos fulcrais de vários parâmetros da vida, nomeadamente da vida da educação, num novo lar cuja magia contagia todos os que por lá passam. Não foi apenas a concretização de mais uma tarefa do projecto “Férias em Português” em Timor Lorosa’e, foi um
tempo para colocar mais um problema em mais um domínio da minha vida... Num domínio onde a relação entre a educação e o desporto assumem contornos mais carregados. Amadureci pessoal e profissionalmente.
A minha acção enquanto formadora de um projecto, como foi o “Férias em Português” em Timor Lorosa’e, impôs-me sempre chegadas à meta, mas só para partir novamente! De acordo com aquilo que se pretende com um projecto educativo e, também por isso, num projecto antropológico, pretendi promover todos e cada um, tentei fomentar o êxito, valorizando as diferenças inerentes a cada formando, utilizando-as como fonte de recurso para um ensino mais rico, aberto e democrático. Um projecto que impôs, também mas não só pelo ensino do português e do voleibol, preparar os jovens para uma vida cívica, política e cultural, desenvolvendo-lhes o sentido de responsabilidade, criando hábitos de trabalho, de tolerância, de solidariedade, de independência e de criatividade.
E, se é olhando o mar que consigo resumir a importância do desporto na minha vida...
“Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar”.
Peço então emprestados, para começar, a aldeia de Freud onde todos parecem contribuir para a construção de uma identidade, o mar de Sophia de Mello Breyner, associado ao dia claro e limpo, à plenitude, às origens, à harmonia e, sobretudo à inteireza. Oriento-me pelo roteiro das minhas vivências no desporto, correndo sempre, apesar de tudo, o risco de me perder.
Enquanto criança, o desporto entrou de uma forma espontânea na minha vida, como entra em qualquer criança. Tive a vantagem de ter uma rua e um mato disponíveis para explorar com os meus amigos, estimulando todas as minhas potencialidades enquanto pessoa e atleta. Foi uma escola paralela à família e à escola onde resolvi conflitos, lutei pelos meus anseios, senti a tristeza e vivi com a alegria. Foi sobretudo aquilo que sentia nos jogos de rua, no recreio, na bancada, de bicicleta ou a correr, a arbitrar ou a jogar - de um modo mais ou menos formal - que me foi educando para uma vida no e pelo desporto. Tinha, então, independentemente dos rumos que tomasse, a minha bússola orientada para aquele que me pareceu ser sempre o melhor destino para quem pretendia viver no e pelo desporto... Destino esse que senti como uma brisa firma que me puxou, que invadiu o meu pensamento, de uma forma quase tão espontânea como a de uma criança a brincar e que foi a grande responsável pelas minhas tomadas de decisão ao longo da vida.
Em adolescente continuou a decisão por uma vida dedicada em pleno ao desporto. A opção pelo desporto numa vida académica reforçou todos os laços que me prendiam a este mundo de intensas interrelações pessoais, emoções extremas e exigências peculiares. Tive a sorte de ter professores e colegas que reflectiam aquelas que foram as minhas expectativas iniciais relativamente a uma vida profissional dedicada à transmissão dos princípios, valores e poderes do desporto. Fui seguindo este percurso, como se de um planeamento desportivo a longo prazo se tratasse. Os conflitos que tive que resolver e os obstáculos a ultrapassar apareciam como se de uma nova carga de treino se tratasse. Gerava um momento de desconforto, mas logo surgia um nível de compensão acima da forma anterior. Respeitei os períodos de recuperação, aproveitando para consolidar os afectos deste palco de emoções. Cresci.
Foi sobretudo no palco do voleibol que vivi e senti as mais fortes emoções. Foi também nele que tomei as decisões mais difíceis e, por isso, continua a ser o palco da minha vida.
Desde o voleibol do desporto escolar ao do clube - 2ª à 1ª divisão -, passando e permanecendo no voleibol de praia - nacional e internacional - fui aprofundando o poder do vasto mundo de emoções, de cultura e de saberes que integram este micro-sistema. Não há nada mais próximo da vida do que as emoções que nos fazem vibrar, bem como a escuta respeitosa das emoções dos outros, para criar sentido e dar a cada um a sensação de ter um lugar satisfatório na vida. Acredito que o capital relacional de toda a pessoa é o seu potencial de felicidade e o desporto é o meio, por excelência, para o conseguir.
Enquanto formadora (professora de educação física e treinadora de jovens), procuro que os alunos aprendam a aprender a lidar consigo mesmo, nomeadamente no e pelo desporto. É uma aprendizagem recíproca com outros que salientam incessantemente o poder do desporto.
Foi também o voleibol e o prazer de ensinar no e pelo desporto que me fez embarcar, rumo à Ilha do Avô Crocodilo, terra do sol nascente, Timor Lorosa’e. Assim, é-me imensamente grato afirmar que a vivência desta etapa da minha vida, também é fruto da partilha de ideias e debates fecundos sobre aspectos fulcrais de vários parâmetros da vida, nomeadamente da vida da educação, num novo lar cuja magia contagia todos os que por lá passam. Não foi apenas a concretização de mais uma tarefa do projecto “Férias em Português” em Timor Lorosa’e, foi um
tempo para colocar mais um problema em mais um domínio da minha vida... Num domínio onde a relação entre a educação e o desporto assumem contornos mais carregados. Amadureci pessoal e profissionalmente.
A minha acção enquanto formadora de um projecto, como foi o “Férias em Português” em Timor Lorosa’e, impôs-me sempre chegadas à meta, mas só para partir novamente! De acordo com aquilo que se pretende com um projecto educativo e, também por isso, num projecto antropológico, pretendi promover todos e cada um, tentei fomentar o êxito, valorizando as diferenças inerentes a cada formando, utilizando-as como fonte de recurso para um ensino mais rico, aberto e democrático. Um projecto que impôs, também mas não só pelo ensino do português e do voleibol, preparar os jovens para uma vida cívica, política e cultural, desenvolvendo-lhes o sentido de responsabilidade, criando hábitos de trabalho, de tolerância, de solidariedade, de independência e de criatividade.
E, se é olhando o mar que consigo resumir a importância do desporto na minha vida...
“Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar”.