sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

NÚMERO UM

No silêncio da madrugada
O mar acordou
Corri na praia…
Entre as névoas e o sol
Procurei o seu regaço ali
P’ra sentir a história
Deste lugar
Era uma vez uma onda
No mar a sonhar
Procurar entrar
No jardim do outro mar
Rompeu névoas
densas e cinzas
E pintou de azul
O seu caminho
Seguiu viagem
Sob a luz deste
Intenso luar
Partilhou memórias
Com a flora
Do outro mar
Falou da magia
De um jogo
Do encanto da voz
De quem jogou
Uma imagem tão bonita
De se ver
Arrancou o riso
Do mais fundo
Que há no ser
Devorou um pensamento só
A palavra tão simples
De um olhar
Chocou nas rochas
Duma praia no meio do mar
Entrou decidida
No horizonte que
Ouviu chamar
Sentiu uma dor
intensa e fria
Um desejo de
Ao seu mar regressar
Voltou com a brisa
No fim da tarde
Sempre a lembrar
Que a vida instável
Tem aqui o seu lugar
Sentiu a força
Que arrepia e
Um desejo de ali
Só naufragar












sábado, 22 de novembro de 2008

Um dia no JOGO!

Vejo uma rede!
Vejo rostos!
É simples e honesto?!
Eis aquele jogo colorido que surge por entre nuvenzinhas fofas, inebria-me, distribui-me grãos de areia, cobre as minhas superfícies.
Escorrego por este arco-íris que liga a terra ao céu e corro atarefada. Entrego-me sem contestação. Obedeço aos caprichos colocados por aquelas cores em jactos irrecusáveis... Loucos sacrifícios!
Recordo que o jogo continua!...
Ensaio um salto e caio num labirinto sem chão... Tento fugir, mas não consigo!
Eis a figura demiurga, o demoniozinho trocista, ingenuamente traiçoeiro, surge por entre os quadrados de uma rede já gasta… Lança-me algo que não me pertence e que me faz mal!
As últimas nuvens cobrem já o resto das cores e tudo (a)parece cinzento.
Entrego-me à sede!… Lanço as minhas mãos em direcção ao acaso e tudo me escapa… O fracasso palpitante perturba-me o sangue. A dor possante invade o coração! Os medos transpiram-me nos dedos!
O sofrimento tomou-me a bússola cerebral, racional!
Os rostos que vi no início esboçam, agora, indiferença...
Desvio o olhar do marcador... Sinto-me enfraquecida… Tenho que parar! Terei?! Eu não sou assim... Procuro o mar. Inquieta-me o seu mistério: cinzento, profundo, onde mergulha a dor! Laranja, flutuante, onde as gaivotas brincam!
O meu olhar reflecte-se naquela imagem intensa e preenche o vazio da retina.
Algo pulsa dentro de mim, faz-me vibrar, sobressai e vence... rompe o cinzento. A nossa essência de lutadoras estremece na luz da afirmação e da confiança. Renasce a alma do jogo com este por-do-sol!


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Importância do desporto na minha vida


Escrever aqui e agora acerca da importância do desporto na minha vida é olhar simultaneamente para a imensidão e para a simplicidade do mar... é procurar descrever a diversidade da sua fauna e da sua flora, sem nele estarmos mergulhados... é falar de sentimentos que surgem soltos e dispersos e que exigem ser encadeados e narrados. Uma construção difícil, com certeza... tal como é a do Homem. Mas que se torna inevitável fazer erguer, nomeadamente, no e pelo desporto! Na falta de um mar, pelo menos que este aquário de duas páginas nos incentive a pensar e a sentir o desporto com a grandeza que o mar exibe.
Peço então emprestados, para começar, a aldeia de Freud onde todos parecem contribuir para a construção de uma identidade, o mar de Sophia de Mello Breyner, associado ao dia claro e limpo, à plenitude, às origens, à harmonia e, sobretudo à inteireza. Oriento-me pelo roteiro das minhas vivências no desporto, correndo sempre, apesar de tudo, o risco de me perder.
Enquanto criança, o desporto entrou de uma forma espontânea na minha vida, como entra em qualquer criança. Tive a vantagem de ter uma rua e um mato disponíveis para explorar com os meus amigos, estimulando todas as minhas potencialidades enquanto pessoa e atleta. Foi uma escola paralela à família e à escola onde resolvi conflitos, lutei pelos meus anseios, senti a tristeza e vivi com a alegria. Foi sobretudo aquilo que sentia nos jogos de rua, no recreio, na bancada, de bicicleta ou a correr, a arbitrar ou a jogar - de um modo mais ou menos formal - que me foi educando para uma vida no e pelo desporto. Tinha, então, independentemente dos rumos que tomasse, a minha bússola orientada para aquele que me pareceu ser sempre o melhor destino para quem pretendia viver no e pelo desporto... Destino esse que senti como uma brisa firma que me puxou, que invadiu o meu pensamento, de uma forma quase tão espontânea como a de uma criança a brincar e que foi a grande responsável pelas minhas tomadas de decisão ao longo da vida.
Em adolescente continuou a decisão por uma vida dedicada em pleno ao desporto. A opção pelo desporto numa vida académica reforçou todos os laços que me prendiam a este mundo de intensas interrelações pessoais, emoções extremas e exigências peculiares. Tive a sorte de ter professores e colegas que reflectiam aquelas que foram as minhas expectativas iniciais relativamente a uma vida profissional dedicada à transmissão dos princípios, valores e poderes do desporto. Fui seguindo este percurso, como se de um planeamento desportivo a longo prazo se tratasse. Os conflitos que tive que resolver e os obstáculos a ultrapassar apareciam como se de uma nova carga de treino se tratasse. Gerava um momento de desconforto, mas logo surgia um nível de compensão acima da forma anterior. Respeitei os períodos de recuperação, aproveitando para consolidar os afectos deste palco de emoções. Cresci.
Foi sobretudo no palco do voleibol que vivi e senti as mais fortes emoções. Foi também nele que tomei as decisões mais difíceis e, por isso, continua a ser o palco da minha vida.
Desde o voleibol do desporto escolar ao do clube - 2ª à 1ª divisão -, passando e permanecendo no voleibol de praia - nacional e internacional - fui aprofundando o poder do vasto mundo de emoções, de cultura e de saberes que integram este micro-sistema. Não há nada mais próximo da vida do que as emoções que nos fazem vibrar, bem como a escuta respeitosa das emoções dos outros, para criar sentido e dar a cada um a sensação de ter um lugar satisfatório na vida. Acredito que o capital relacional de toda a pessoa é o seu potencial de felicidade e o desporto é o meio, por excelência, para o conseguir.
Enquanto formadora (professora de educação física e treinadora de jovens), procuro que os alunos aprendam a aprender a lidar consigo mesmo, nomeadamente no e pelo desporto. É uma aprendizagem recíproca com outros que salientam incessantemente o poder do desporto.
Foi também o voleibol e o prazer de ensinar no e pelo desporto que me fez embarcar, rumo à Ilha do Avô Crocodilo, terra do sol nascente, Timor Lorosa’e. Assim, é-me imensamente grato afirmar que a vivência desta etapa da minha vida, também é fruto da partilha de ideias e debates fecundos sobre aspectos fulcrais de vários parâmetros da vida, nomeadamente da vida da educação, num novo lar cuja magia contagia todos os que por lá passam. Não foi apenas a concretização de mais uma tarefa do projecto “Férias em Português” em Timor Lorosa’e, foi um
tempo para colocar mais um problema em mais um domínio da minha vida... Num domínio onde a relação entre a educação e o desporto assumem contornos mais carregados. Amadureci pessoal e profissionalmente.
A minha acção enquanto formadora de um projecto, como foi o “Férias em Português” em Timor Lorosa’e, impôs-me sempre chegadas à meta, mas só para partir novamente! De acordo com aquilo que se pretende com um projecto educativo e, também por isso, num projecto antropológico, pretendi promover todos e cada um, tentei fomentar o êxito, valorizando as diferenças inerentes a cada formando, utilizando-as como fonte de recurso para um ensino mais rico, aberto e democrático. Um projecto que impôs, também mas não só pelo ensino do português e do voleibol, preparar os jovens para uma vida cívica, política e cultural, desenvolvendo-lhes o sentido de responsabilidade, criando hábitos de trabalho, de tolerância, de solidariedade, de independência e de criatividade.
E, se é olhando o mar que consigo resumir a importância do desporto na minha vida...
“Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar”.